População das ilhas sul realiza plenária com vistas a elaborar o Plano Municipal de Mudaças Climáticas

Moradores das ilhas sul e adjacentes deliberaram sobre as suas propostas para o Plano Municipal de Mudanças Climáticas de Belém, nesta sexta-feira, 17 de maio. A Plenária sobre Mudanças Climáticas das ilhas sul começou às 15h, no bar do Boá, na entrada do Periquitaquara, na ilha do Combu.

Realizada pelo Fórum Municipal de Mudanças Climáticas, a última plenária na região das ilhas reuniu 200 pessoas, entre especialistas, autoridades, estudantes, professores e a comunidade das ilhas sul, que pertencem ao Distrito Administrativo de Outeiro (Daout), para discutir os desafios e oportunidades de um futuro sustentável na região em preparação para COP-30, em 2025, em Belém.

As principais demandas dos moradores incluem a preservação da floresta, o fim dos desmatamentos e a solução de problemas como a poluição dos rios e o abastecimento de água.

Preocupação com o desmatamento

Apesar da pouca idade, a estudante do sétimo ano do ensino fundamental Iris Martins, 12, moradora da comunidade São José, tem consciência dos graves problemas da região. Ela aponta como a maior preocupação da sua comunidade “o lixo e o desmatamento. Porque tem muito lixo, aí jogam no rio e vai poluindo”.

A professora e empreendedora da área de Turismo Analice Mota, 43, afirma que o grande problema dos moradores das ilha sul, além da preocupação com o clima, é a água. “A nossa questão aqui é não ter água. A gente vive na água, mas a gente não tem água potável. A falta de água potável afeta a saúde, o saneamento”.

O coordenador geral do Fórum Municipal de Mudanças Climáticas de Belém, Sérgio Brazão, destaca as diferenças dos problemas climáticos verificados nas ilhas sul e os das ilhas do norte, que incluem as ilhas de Mosqueiro, Outeiro e Cotijuba, que são ilhas de terra firme, formadas por terrenos muito antigos onde existe o problema do desmoronamento de falésias, destruindo ruas e avenidas beira mar. “Isso não existe aqui nas ilhas do sul, que são ilhas de várzea. Então aqui há a necessidade de se preservar todo esse patrimônio verde, porque se sair a vegetação, o solo se espalha no rio e a gente perde o espaço das ilhas. Preservar a vegetação é importante para preservar o solo que mantém a ilha de pé”.

A participação massiva da população nas plenárias, segundo ele, “demonstra a vontade das pessoas de contribuir, de participar, de ser um agente que participa. As respostas que estão na boca da população”, destaca Brazão.

Escuta da população

Na primeira etapa das discussões, foram realizadas 13 plenárias com os segmentos da sociedade com ribeirinhos, agricultores familiares, mulheres, juventude, empresários. Depois teve a capacitação, a formação de multiplicadores sobre a temática do clima, “sobre a relação das mudanças climáticas com a realidade social das comunidades desses territórios dos segmentos”, relatou a secretária-executiva do Fórum de Mudanças Climáticas de Belém, Marinor Brito. 

“Agora estamos atuando diretamente nos territórios, já realizamos sete plenárias distritais de Belém e das ilhas do Mosqueiro, Caratateua, Cotijuba e agora do Combu para garantir a escuta da população, os problemas relacionados às desigualdades sociais, à falta de políticas públicas, mas especialmente as propostas para o Plano de Mudanças Climáticas”, disse Marinor. “Quem não acredita nesse modelo de participação popular, paciência, a gente só acredita que muda o comportamento das pessoas com debate, com formação, com interação, com respeito à realidade, à territorialidade e à ancestralidade de cada um”, concluiu.

Plano Municipal de Mudanças Climáticas

A plenária foi encerrada com a posse dos integrantes do Comitê Popular do Fórum nas ilhas sul que irão representar os moradores da região no Fórum Municipal de Mudanças Climáticas.

As plenárias distritais serão encerradas na próxima terça-feira, 21 de maio, com a plenária do Distrito Administrativo de Belém (Dabel), na escola Benvinda de França Messias, em São Brás. Em seguida ainda serão realizadas plenárias específicas de saneamento, arborização, da diversidade que existe em Belém, além de plenárias com setores do serviço público.

A Conferência do Clima deverá ser realizada em junho, quando serão discutidas e sintetizadas as propostas dos territórios para contribuir para o Plano de Mudanças Climáticas que deverá ser finalizado em outubro. Será um dos primeiros planos participativos do Brasil que, para garantir o cumprimento, será transformado em lei.

Todos os participantes das plenárias já ficam inscritos para participar da Conferência Municipal do Clima.

O Fórum Municipal de Mudanças Climáticas tem a parceria de diversas instituições, entre elas a Universidade Livre da Amazônia (Ulam), secretarias municipais, o Instituto Federal do Pará (IFPA), a Universidade Federal do Pará (UFPA), a Universidade do Estado do Pará (Uepa), a Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), o Museu Emílio Goeldi e o Instituto Histórico e Geográfico do Pará.

Texto:

Raimundo Sena

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